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A Torre de Babel

"Asseguram os ímpios que o disparate é normal na Biblioteca e que o razoável (e mesmo a humilde e pura coerência) é quase milagrosa excepção."

Jorge Luís Borges, A Biblioteca de Babel

 

 

sexta-feira, agosto 05, 2005

Valerá talvez a pena

Ponderar seriamente que estão presentes factores preocupantes na actual conjuntura político-social:

1) O progressivo alheamento da generalidade das pessoas de tudo e mais alguma coisa que interesse ao destino colectivo, com o consumismo desenfreado a substituir carinhos, emoções, convicções e até mesmo religiões. Num país em crise, as "indústrias" mais dinâmicas são as de emprestar dinheiro, os telemóveis, as viagens e, espantemo-nos todos, a venda de porsches;

2) Ausência de capacidade do actual sistema político para gerar soluções de governação estáveis e credíveis. Das eleições de há quatro meses saiu uma maioria absoluta que se apresenta, tão pouco tempo decorrido, exangue, minada por interesses e incapaz de dar respostas;

3) Agravamento das disparidades sociais, com o esmagamento em curso da classe média, em que alguns, poucos, e escolhidos, se safam "para cima" e quase todos são arrastados para baixo. Um país de muitos muito pobres e de poucos muito ricos costuma dizer-se que é sul-americano. Mas também pode ser europeu. Até podemos ser nós.

Tudo isto junto forma um cocktail explosivo. A corrupção que se vai intuindo e que, na sua face pública, cresceu desmesuradamente nos últimos 10 anos, também não deixa ninguém sossegado.

Se não estivéssemos na UE, provavelmente estariamos em sérios riscos de um qualquer golpe de estado, ditadura militar de pacotilha ou coisa que o valha. E mesmo estando, não é de confiar que temos um seguro à prova de tudo. Até porque, e isto é sintomático, se a III República terminar da pior forma, a maioria dos portugueses, no dia a seguir, vai comprar um plasma. Ou merda que o valha.